ZARC: a importância do Zoneamento Agrícola de Risco Climático frente às mudanças climáticas no Rio de Janeiro
A importância do Zoneamento Agrícola de Risco Climático frente às mudanças climáticas
ZONEAMENTO AGRÍCOLA

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é uma ferramenta fundamental para orientar a agricultura frente aos riscos climáticos, especialmente em um cenário de mudanças cada vez mais intensas no regime de chuvas, temperaturas e outros fatores ambientais. Com base em dados agroclimáticos, como tipo de solo, volume de chuvas, temperatura e ciclos de cultivo, o ZARC indica os períodos mais adequados para o plantio de cada cultura em diferentes regiões, ajudando a reduzir os riscos de perdas na produção agrícola.

No Estado do Rio de Janeiro, onde predominam os agricultores familiares, o ZARC é um importante aliado na busca por segurança alimentar, estabilidade econômica e sustentabilidade ambiental, garantindo que os produtores possam tomar decisões mais seguras e eficientes diante das incertezas do clima.

Pedro Heizer, assessor técnico da Pesagro-Rio, explica que “o ZARC é, acima de tudo, um instrumento de política pública e de gestão de riscos que tem como objetivo indicar ao agricultor o período ideal para o plantio de uma cultura em cada município, de forma a minimizar as perdas provocadas por eventos climáticos adversos". 

Segundo ele, o ZARC é construído com base em análises de dados históricos e fatores edafoclimáticos específicos de cada cultura, como a necessidade de água e a tolerância ao calor. "Por exemplo, a soja tem calendário específico que, no último ZARC, indicava o início da semeadura no final de setembro, justamente para evitar que o cultivo ocorresse em período de estiagem severa, muito comum nos meses anteriores".

Além de considerar dados sobre precipitação e temperatura, o ZARC também leva em conta o tipo de solo, o balanço hídrico e a evapotranspiração das culturas. "Cada planta reage de maneira diferente às condições climáticas. Algumas precisam de mais água, outras são mais sensíveis ao calor. O ZARC equilibra tudo isso para garantir que o agricultor consiga produzir com o menor risco possível", acrescenta o técnico da Pesagro-Rio.

Outro ponto ressaltado por Heizer é a atualização constante do ZARC, feita anualmente para atender às demandas dos produtores, especialmente diante das mudanças climáticas. Ele lembra que eventos como El Niño e La Niña, que alteram o padrão das chuvas e das temperaturas, são levados em conta nesse planejamento. "Em anos de El Niño, por exemplo, há excesso de chuvas no Sul, seca no Nordeste e aumento de temperatura no Sudeste. Isso impacta diretamente a produtividade agrícola, e o ZARC precisa refletir essas condições", explica.

Além de ser uma ferramenta técnica, o ZARC também é fundamental para o acesso ao crédito agrícola e ao seguro rural, o que reforça sua importância para a segurança financeira dos agricultores familiares. "Se o produtor não seguir o calendário de plantio definido pelo ZARC, ele não consegue acessar financiamento nos bancos ou contratar seguro. Por isso, o zoneamento não é só uma recomendação, mas um critério essencial para que o agricultor consiga produzir com respaldo financeiro", afirma.

ZARC 2

No Rio de Janeiro, culturas como feijão, milho, mandioca e hortaliças, predominantes na agricultura familiar, já se beneficiam diretamente das orientações do ZARC, especialmente em regiões como Nova Friburgo, Teresópolis e Campos dos Goytacazes, onde o zoneamento ajuda a definir as épocas mais seguras para o plantio.

Apesar disso, ainda há desafios no acesso às informações do ZARC, principalmente por parte de agricultores que não têm conectividade no campo ou acesso regular à assistência técnica. Para Pedro Heizer, “é fundamental investir na capacitação dos agricultores, fortalecer a extensão rural e desenvolver plataformas que sejam mais acessíveis e adaptadas à realidade local".

Ao guiar o agricultor familiar sobre o melhor momento de plantar e com menor risco, o ZARC contribui para evitar perdas, melhorar a renda e garantir a permanência das famílias no campo, fortalecendo a agricultura local e a segurança alimentar da população.