
O Rio de Janeiro, segundo maior produtor de aço do Brasil, enfrentou, em 2020, o desafio de lidar com 9,189 milhões de toneladas de escória de aciaria, subproduto gerado no processo de fusão do minério de ferro e de outros elementos como calcário e dolomita. Normalmente destinada à cobertura de estradas vicinais, essa escória é comercializada a valores simbólicos, criando desafios logísticos e econômicos para a indústria siderúrgica.
Diante dessa realidade, uma parceria entre a Pesagro-Rio e a Ternium Brasil resultou no início de uma pesquisa inovadora em 2018, coordenada pelo pesquisador Sérgio Trabali Camargo Filho. O estudo busca reutilizar a escória como opção de baixo custo à calagem tradicional para corrigir a acidez do solo, problema que afeta diretamente a produtividade agrícola.
Embora o calcário seja amplamente eficaz para neutralizar a acidez, atingindo níveis de neutralização superiores a 90%, o custo elevado impede a sua ampla adoção por pequenos produtores. A escória de aciaria, por sua vez, possui eficiência de neutralização de 45%, mas seu baixo preço e a alta densidade a tornam atraente para produtores com menos recursos.
De acordo com Sérgio Camargo, o material deve ser classificado como "condicionante de solo" devido à sua capacidade limitada de neutralização. Ainda assim, os resultados iniciais mostraram-se promissores, com bons desempenhos no cultivo de milho e feijão em testes realizados em vasos. O pesquisador destacou ainda que a presença de metais pesados, inicialmente uma preocupação, não se mostrou tóxica para o desenvolvimento das plantas.
Entre 2021 e 2022, foram realizados experimentos mais abrangentes para avaliar a granulometria do material, condição essencial para sua aplicação prática. Apenas 15% dos lotes analisados apresentaram características adequadas, indicando a necessidade de ajustes industriais, como o uso de moinhos e peneiras mais precisas.
A análise química conduzida na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) demonstrou níveis satisfatórios de cálcio e magnésio, além de conformidade com padrões de segurança estabelecidos pela Instrução Normativa SDA nº 7/2016. Estudos de incubação compararam a escória com calcário convencional, revelando alta reatividade da escória na elevação do pH do solo.
Camargo relatou que dosagens entre 1 e 4 toneladas por hectare foram eficazes, dependendo das culturas agrícolas e das características do solo. Apesar dos avanços, ele estima que mais um ano de estudos será necessário para consolidar os resultados e submeter o produto ao Ministério da Agricultura para regularização.
Além de beneficiar a agricultura, a reutilização da escória de aciaria oferece uma solução sustentável para a gestão de resíduos industriais, promovendo sinergias entre os setores de siderurgia e agropecuária. “Estamos transformando um passivo ambiental em ativo econômico”, pontuou o pesquisador.
Embora ainda haja desafios técnicos, como o aprimoramento da moagem e da classificação granulométrica, os pesquisadores estão otimistas. A expectativa é que essa tecnologia beneficie pequenos produtores, que terão acesso a um condicionante de solo barato e eficiente, reduzindo custos e aumentando a sustentabilidade.
A pesquisa reforça a importância da inovação para promover a sustentabilidade em diversos setores. Ao transformar um resíduo industrial em recurso agrícola valioso, o projeto representa um marco no desenvolvimento de soluções integradas para o Rio de Janeiro, fortalecendo sua economia e promovendo a conservação ambiental.