
Depressão e transtorno de ansiedade atingem gestantes, puérperas e profissionais de saúde
A atenção à saúde mental das gestantes, puérperas e profissionais de saúde que atuam em maternidades foi objeto de debate on-line realizado nesta quinta-feira (22/10) pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). A webinar foi promovida pelo Grupo de Trabalho (GT) de Saúde Mental Perinatal da SES-RJ e buscou discutir o quadro psicossocial dessas mulheres no contexto da pandemia da Covid-19, em que os cuidados especiais para essa população devem ser maximizados pela rede pública de saúde.
Dois dos transtornos psicológicos mais recorrentes entre grávidas e puérperas são a depressão e a ansiedade materna perinatal. A pesquisadora da UNIFESP, Erika de Sá Vieira, apresentou indicadores sociais, presentes em publicações da revista médica britânica The Lancet, que demonstram haver uma constância nos casos desses transtornos há anos. “Parece que os índices de ansiedade e depressão vêm aumentando exponencialmente, mas estudos de revisão sistemática mostram que não. Na verdade, eles têm se mantido elevados há um bom tempo. São um problema de saúde pública há muitas décadas.”
Para Érika, profissionais e gestores de saúde estão conseguindo entender e ampliar a identificação dos fatores de mortalidade materna para além daqueles de maior impacto físico, incorporando os sintomas de saúde mental. Esses transtornos impactam a saúde não apenas da mulher, mas também da criança, o parceiro e familiares. “Uma mulher que engravida já com quadro de depressão ou passa a ter seu primeiro episódio de ansiedade durante a gestação tem maior possibilidade de desfechos obstétricos negativos”, acrescentou a pesquisadora.
Nesse contexto, sintomas psiquiátricos maternos na perinatalidade apresentam influência predominante ou duradoura que pode afetar o feto e a criança. Entre as suas consequências, estão o parto prematuro do bebê, a menor idade gestacional, baixo peso da criança ao nascer e seu desenvolvimento biopsicossocial alterado. Segundo Érika, uma em cada cinco mulheres desenvolve depressão periparto, 27% já engravidam deprimidas e 33% deprimem durante a gravidez. “Se eu pensar também que 34% das mulheres apresentam ansiedade gestacional e 25% delas apresentam ansiedade no pós-parto e que, a cada trimestre, esses níveis vão aumentando, tudo se torna muito mais oneroso para a qualidade de vida dessa mulher e para o Sistema Único de Saúde.”
Esse cenário se agravou com a pandemia da Covid-19, que impôs desafios à relação das gestantes e puérperas com os profissionais de saúde no âmbito hospitalar. A integrante do GT, Luana Moura, considera prioritário refletir sobre a atenção à paciente e ao profissional da maternidade de forma ampla e integrada. “Pensar o cuidado envolve aspectos subjetivos do trabalho e não só os aspectos técnicos, que são também muito importantes. É necessário que haja uma articulação entre o paradigma biomédico e as suas consequências, além da contribuição subjetiva e criativa de quem trabalha.”
Luana reiterou a necessidade do cuidado de si no contexto do ambiente de trabalho, sobretudo entre as mulheres, já que a atuação nas maternidades costuma ser uma função majoritariamente feminina. “Transtornos mentais relacionados ao trabalho são muito mais comuns do que se pensa e impactam tanto a vida laboral, como representam custos expressivos ao sistema de saúde e previdência. Envolvem a dimensão social, de gênero, sobrecarga mental, dentre tantas outras coisas.”
Durante a webinar, a enfermeira da Coordenação de Emergência Regional Leblon e da Maternidade Leila Diniz, Erika Lázaro, deu seu depoimento de quem atendeu in loco grávidas, puérperas e crianças durante a pandemia. “Hoje o que a gente vive é uma guerra biológica. Nesses sete meses, muitas vezes, saímos de casa chorando. Há muito a mudar, estudar e aprender com cada paciente que recebemos e com cada vivência.”